Postagens

Mostrando postagens de março, 2025

Por que é tão difícil lidar com o desejo?

O desejo é uma força que nos move, mas também pode ser fonte de angústia. Muitas vezes, não sabemos exatamente o que desejamos, ou, quando sabemos, nos deparamos com obstáculos internos e externos que tornam a realização desse desejo mais complexa do que imaginávamos. Mas por que lidar com o desejo é tão difícil? O que está em jogo nesse movimento que nos impulsiona e, ao mesmo tempo, nos inquieta? Na psicanálise, o desejo não é visto como algo simples e direto, mas como um processo marcado pela falta. Freud apontou que o desejo está ligado ao inconsciente e, muitas vezes, busca algo que nunca poderá ser plenamente satisfeito. E Lacan complementou essa ideia ao afirmar que "o desejo é o desejo do Outro", ou seja, ele se estrutura a partir da relação com os outros e das significações que damos ao que nos falta. O desejo também pode se manifestar em sintomas. Quantas vezes queremos algo e, ao mesmo tempo, fazemos de tudo para evitá-lo? Isso acontece porque o desejo carrega conf...

O que a infância tem a ver com quem sou hoje?

Nossos primeiros anos de vida são determinantes para a constituição da nossa subjetividade. Desde o nascimento – e até mesmo antes dele – vivemos experiências que deixam marcas profundas no inconsciente. Mas como exatamente a infância influencia quem somos hoje? E por que a psicanálise dá tanta importância a essa fase? Freud foi um dos primeiros a demonstrar que muitos dos conflitos que enfrentamos na vida adulta têm raízes na infância. As primeiras relações que estabelecemos – especialmente com os cuidadores – moldam nossa forma de amar, de desejar e de lidar com o mundo. Não significa que estamos condenados a repetir o passado, mas sim que carregamos traços dessas vivências na maneira como nos relacionamos com nós mesmos e com os outros. Lacan, por sua vez, enfatizou que a infância não é apenas um período de desenvolvimento, mas um tempo em que o sujeito é atravessado pela linguagem, pelos desejos dos outros e pelas dinâmicas familiares que o constituem. Assim, questões não resolvida...

A angústia tem um sentido: o que ela pode estar tentando dizer?

A angústia é uma experiência universal. Todos, em algum momento da vida, já sentiram aquele aperto no peito, uma inquietação sem causa aparente ou um medo difuso que parece tomar conta. Muitas vezes, tentamos fugir dessa sensação, buscando distrações ou explicações rápidas para o desconforto. Mas e se, em vez de evitar a angústia, nos perguntássemos: o que ela quer me dizer? Para a psicanálise, a angústia não é apenas um sintoma a ser eliminado. Ela tem um sentido e revela algo essencial sobre o sujeito. Freud a definiu como um sinal de que algo do inconsciente tenta emergir, trazendo à tona conflitos, desejos reprimidos ou questões que não conseguimos nomear conscientemente. Já Lacan a descreveu como a experiência que surge quando o sujeito se depara com o real, com algo que escapa à sua organização simbólica do mundo. A angústia pode estar relacionada a mudanças na vida, a escolhas difíceis, a expectativas que criamos para nós mesmos. Muitas vezes, surge quando nos afastamos de algo ...

Os sinais do inconsciente: como os sonhos e lapsos revelam quem somos

Na correria do dia a dia, muitas vezes ignoramos pequenos deslizes de fala, esquecimentos súbitos ou sonhos que parecem sem sentido. No entanto, para a psicanálise, esses fenômenos não são meras coincidências ou falhas aleatórias do cérebro. São, na verdade, expressões do inconsciente, mensagens cifradas que tentam comunicar algo que ainda não conseguimos elaborar plenamente na consciência. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, foi pioneiro ao mostrar que os sonhos são a "via régia" para acessar o inconsciente. Nos sonhos, desejos reprimidos, angústias não ditas e conflitos internos se manifestam sob formas simbólicas, frequentemente disfarçadas. O que à primeira vista pode parecer absurdo ou desconexo pode, através da análise, revelar aspectos profundos da nossa psique. Além dos sonhos, lapsos de linguagem e atos falhos também são reveladores. Quem nunca trocou o nome de uma pessoa por outro de forma aparentemente acidental? Ou disse algo "sem querer" que acabou sen...

Por que repetimos padrões que nos fazem sofrer?

Muitas vezes, nos vemos presos a situações que se repetem ao longo da vida. Relacionamentos que terminam de maneira semelhante, escolhas que levam a frustrações conhecidas, dificuldades que insistem em retornar. Mas por que isso acontece? O que nos faz cair nas mesmas armadilhas, mesmo quando sabemos que podem nos levar ao sofrimento? A psicanálise nos oferece uma chave para compreender esse fenômeno: a chamada compulsão à repetição. Conceito elaborado por Freud, a compulsão à repetição é uma tendência inconsciente a reviver experiências passadas, especialmente aquelas marcadas por conflitos não resolvidos. Isso significa que, muitas vezes, buscamos de maneira inconsciente recriar situações familiares, ainda que dolorosas, na tentativa de elaborar algo que ficou pendente. Essa repetição pode se manifestar de diversas formas: na escolha de parceiros afetivos com perfis semelhantes, em padrões de autossabotagem no trabalho, em dinâmicas familiares que parecem se perpetuar. O que todas es...

Para começar a entender a psicanálise...

Nestes primeiros artigos pretendo mostrar um pouco da abrangente amplitude de abordagem que a psicanálise pode oferecer. Será uma pequena série de artigos introdutórios, direcionados a quem nunca teve contato com esse tipo de assunto, portanto, na medida do possível, evitarei jargões técnicos, lista de referências bibliográficas e citações que mais interessam a profissionais e acadêmicos. Eis uma pequena descrição, com os respetivos links que acrescentarei à medida em que eu for publicando cada conteúdo. 1. "Por que repetimos padrões que nos fazem sofrer?" Exploração do conceito de compulsão à repetição na psicanálise. Como identificar padrões repetitivos nas relações e comportamentos. O papel do inconsciente e a possibilidade de mudança através da análise. 2. "Os sinais do inconsciente: como os sonhos e lapsos revelam quem somos" A interpretação dos sonhos e atos falhos na psicanálise. Exemplos práticos de como o inconsciente se manifesta no cotidiano. Reflexão sob...

Bem-vindo ao Psicontrando: Reflexões Psicanalíticas para o Autoconhecimento

A psicanálise nos convida a um mergulho no inconsciente, desvendando padrões, conflitos e afetos que moldam nossa forma de ser e sentir. Este blog nasce com o propósito de oferecer reflexões e conteúdos que possam servir como pontos de partida para sua jornada de autoconhecimento e (re)organização psicológica. Muitas vezes, nos pegamos repetindo padrões que não compreendemos ou lidamos com angústias que parecem não ter origem clara. Através de artigos e discussões fundamentadas na psicanálise, você encontrará aqui ferramentas para pensar sobre si mesmo, reconhecer dinâmicas internas e, quem sabe, iniciar um processo mais profundo de escuta de si. No entanto, a autoanálise tem seus limites. Quando os dilemas internos se tornam labirintos difíceis de atravessar sozinho, a escuta psicanalítica pode ser um espaço seguro para dar voz ao que ainda não foi dito. Se em algum momento sentir que é hora de um olhar mais aprofundado sobre sua história e seus conflitos ou angústias, estou à disposi...