O que a infância tem a ver com quem sou hoje?
Nossos primeiros anos de vida são determinantes para a constituição da nossa subjetividade. Desde o nascimento – e até mesmo antes dele – vivemos experiências que deixam marcas profundas no inconsciente. Mas como exatamente a infância influencia quem somos hoje? E por que a psicanálise dá tanta importância a essa fase?
Freud foi um dos primeiros a demonstrar que muitos dos conflitos que enfrentamos na vida adulta têm raízes na infância. As primeiras relações que estabelecemos – especialmente com os cuidadores – moldam nossa forma de amar, de desejar e de lidar com o mundo. Não significa que estamos condenados a repetir o passado, mas sim que carregamos traços dessas vivências na maneira como nos relacionamos com nós mesmos e com os outros.
Lacan, por sua vez, enfatizou que a infância não é apenas um período de desenvolvimento, mas um tempo em que o sujeito é atravessado pela linguagem, pelos desejos dos outros e pelas dinâmicas familiares que o constituem. Assim, questões não resolvidas desse período podem reaparecer na vida adulta, disfarçadas em sintomas, angústias ou padrões de repetição.
Muitas vezes, nos deparamos com dificuldades que parecem não ter explicação: inseguranças, medos, bloqueios emocionais. Quando investigamos mais a fundo, percebemos que essas questões podem estar enraizadas em experiências infantis, nas formas como fomos olhados, escutados (ou não), acolhidos ou frustrados.
Mas isso não significa que todos os seus dilemas de hoje são exclusivamente culpa de quem te criou, e nem mesmo que incompetência sua não saber lidar com certas situações do passado, ainda mais na infância.
A psicanálise propõe um retorno ao passado como um exercício para compreender o que de lá ainda opera em nós. Mas sem julgamentos, apenas para tentar dar sentido a essas influências, possibilitando pensar em novos caminhos para lidar com os desafios da vida adulta.
Se você percebe que certos padrões ou dificuldades parecem ter raízes mais profundas, talvez seja o momento de olhar para sua história com um novo olhar. Afinal, compreender a própria infância não é apenas revisitar o passado, mas transformar o presente.
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